

por Rômulo Paes de Sousa
Nos últimos tempos, se a esquerda passou por agruras, a direita também tem lá o seu calvário. A esquerda se ressente do enfraquecimento da sua capacidade de mobilizar, da falta de inovação em sua agenda de políticas públicas, da dependência de coalisões de baixa identidade político-ideológica, da fuga de parte de seu eleitorado histórico. Já a direita, no nível federal, transitou da aversão ao esquerdismo para a luta antidemocrática, do conservadorismo político para uma agenda regressiva quanto aos direitos humanos e sociais, da disputa gerencial pela submissão do estado a uma caprichosa agenda eleitoral, da promoção da cultura, com a criação de leis de incentivo tais como a Lei Sarney e Lei Rouanet, para a censura e demonização do diverso. A direita agora enfrenta o grande desafio de lidar com a condenação e iminente prisão de seu líder maior.
A direita está aturdida já que, embora condenado, Bolsonaro continua com o mando de jogo nesse lado do campo. No comando de Bolsonaro, a direita foi capturada e submetida a uma agenda que a levou à condição crítica que se encontra. Assim como seus pares direitistas no mundo afora, Bolsonaro não dá sinais de que colocará os interesses do coletivo acima dos seus próprios interesses. Isso deverá estender a crise no campo direitista por mais tempo.
Em dois anos e meio do 3º mandato do presidente Lula, o ex-presidente Bolsonaro e, posteriormente, o presidente Trump tomaram conta das manchetes dos grandes jornais e do conteúdo das mídias digitais. O processo que envolve o autoexilado Eduardo Bolsonaro e novas iniciativas do governo Trump ainda vão capturar a nossa atenção no semestre. Contudo, no presente, o governo se encontra em um momento singular, o governo conta com uma base de apoio mais coesa e apoio entre a parcela do eleitorado que rejeita a anistia ao ex-presidente, o que lhe assegura uma condição mais favorável do que a da extrema-direita. Os sinais econômicos são positivos, sobretudo o arrefecimento da inflação dos alimentos. Abrem-se para o governo várias oportunidades. A principal delas é poder imprimir uma presença mais positiva no noticiário. Contudo, seria oportuno que o governo apresentasse uma agenda no qual é protagonista, i.e., um ente decisivo na melhoria do bem-estar da população. Os ganhos econômicos advindos da queda da taxa de juros precisam vir acompanhado da uma forte agenda de políticas sociais.
O programa Agora tem Especialistas é a iniciativa mais promissora para se constituir na grande marca do terceiro mandato Lula. Dentre as inciativas mais conhecidas de política social é a que enfrenta um déficit estrutural na oferta de serviços públicos.
Neste contexto, maior atenção deve ser dada ao que pode se converter em mudança imediata e substantiva na melhoria da qualidade de vida. Afinal, para o ciclo de implementação de políticas públicas já não há mais tempo para se inaugurar um novo ciclo de políticas. A esta altura do jogo, novos programas são matéria das comissões de programas das eleições do ano que vem.
Portanto, o governo deve mergulhar em suas iniciativas mais avançadas, separando o que é repetição e restauro do que é inovador e transformador. Se muito do que está no primeiro bloco é marca histórica do Presidente Lula, é no segundo que se fixará a identidade do seu terceiro mandato e a justificativa de sua busca por um quarto mandato.
O programa Agora tem Especialistas é a iniciativa mais promissora para se constituir na grande marca do terceiro mandato Lula. Dentre as inciativas mais conhecidas de política social é a que enfrenta um déficit estrutural na oferta de serviços públicos. Seu sucesso impactará positivamente nas condições de saúde da população, com efeitos sobre o desenvolvimento econômico, na redução das desiguales sociais, e na redução das disparidades no desenvolvimento humano do país.
Aumentar e melhorar a oferta de serviços são tarefas muito mais complexas do que ofertar bens e transferir renda. Afinal, ofertar serviços de forma homogênea para as populações que vivem em condições muito diversas, em contextos muito desiguais de capacidade instalada, é um dos maiores desafios do serviço público brasileiro. A implementação de novos programas, mesmo quando guardam semelhanças com os programas que substituem, pagam o preço dos ajustes necessários quanto a: mudança de modelo; desconhecimento das regras de funcionamento pelos gestores e usuários; alteração na lógica de repasse de recursos e insegurança dos profissionais de saúde sobre o que muda na rotina dos serviços.
O Ministério da Saúde dispõe da iniciativa de política pública que pode se configurar na principal marca de governo pela: relevância, volume de recursos envolvidos, cobertura e efeito transformador na saúde da população e no SUS. Contudo, há muitos desafios pela frente. Vento forte a favor também derruba os barcos.
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