A pouco menos de dois meses da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém do Pará, um estudo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alerta para a “extensa contaminação” por plásticos na Floresta Amazônica. Realizado em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a pesquisa destaca a região como uma “nova fronteira para o lixo plástico” e aponta o Rio Amazonas como responsável por 10% das emissões marinhas de plástico.
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“Embora os oceanos ocupem frequentemente o centro das atenções, os impactos sobre os ecossistemas terrestres e de água doce são igualmente críticos, particularmente na Amazônia, onde a insegurança alimentar e hídrica, juntamente com os desafios de saneamento, amplificam os efeitos sobre as comunidades locais e a biodiversidade”, traz o artigo “Plastic pollution in the Amazon: the first comprehensive and structured scoping review”, publicado originalmente pela revista AMBIO em agosto deste ano.
A pesquisa destaca os riscos da poluição em ambientes aquáticos e terrestres, além dos possíveis danos à saúde humana, já que a Amazônia — maior bacia hidrográfica do planeta — tem o segundo rio mais poluído por plástico do mundo. A afirmação vem da bióloga e colaboradora da Fiocruz Jéssica Melo, uma das autoras do estudo.
— A poluição por plástico é uma crise global, mas estudos têm se concentrado em ambientes marinhos. A Amazônia, maior bacia hidrográfica do mundo e com o segundo rio mais poluído por plástico, tem recebido atenção científica limitada — avalia.
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O objetivo do artigo é explorar e sintetizar a literatura científica que avaliou a presença de poluição plástica (macro, meso, micro e nanoplástico) em diversos cenários ambientais na Amazônia, revelando como a presença desse material afeta fauna, flora, sedimentos e água.
— A contaminação de fontes importantes de alimentos e de água representa um grande risco para a saúde de populações tradicionais — analisa a bióloga.
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Conforme o estudo, as comunidades da Amazônia ainda são expostas diariamente a toneladas de lixo flutuante. Esses resíduos sólidos são descartados não apenas por moradores de diferentes áreas urbanas e embarcações, como também pelas próprias comunidades. O acúmulo de material contribui para que o lixo atravesse cidades, países e até oceanos.
Os pesquisadores do Instituto Mamirauá, que colaborou com a pesquisa, ressaltam a falta de infraestrutura para coleta de resíduos nas residências na região amazônica, sobretudo naquelas mais isoladas. Os integrantes da organização vivem em Tefé, no interior do estado do Amazonas, e trabalham em contato direto com as comunidades ribeirinhas.
— Antigamente, os resíduos eram majoritariamente orgânicos ou biodegradáveis, como cascas de frutas, espinhas de peixe, mas, hoje, vemos garrafas PET e pacotes de macarrão instantâneo boiando nos rios, com frequência — afirmam.
Outro ponto levantando pelos estudiosos é a falta de políticas públicas para coibir o uso de plásticos:
— Enquanto cidades como Rio de Janeiro e Salvador avançam com proibições de alguns derivados de petróleo, como canudos de plástico e embalagens de isopor, não conheço nenhum município no interior do Amazonas que ofereça reciclagem de plásticos ou medidas para reduzir seu impacto.
Com as consequências do crescimento do lixo e do plástico ainda pouco dimensionadas, o epidemiologista da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana, afirma que o efeito do aumento desse lixo pode ser ainda maior que o observado.
— Revisamos 52 estudos, avaliados por pares, com uma gama de relatos sobre lixo e fragmentos de plástico em ambientes terrestres e aquáticos do bioma amazônico, o que indica um impacto muito maior do que a maioria das pessoas imagina — observa o pesquisador.
De acordo com Orellana, o estudo foi construído diante da necessidade de se encarar o problema da poluição por plástico na região, principalmente com a proximidade da COP30, que acontece no Pará.
— O dia 14 de agosto foi o prazo limite proposto pelas Nações Unidas para que cerca de 180 países concluíssem a elaboração do primeiro tratado global contra a poluição plástica. Por isso, o momento parece oportuno para discutir os intrigantes resultados desta revisão de escopo da literatura científica, a primeira a aplicar um protocolo sistemático (Prisma-ScR) para avaliar a contaminação por plástico em ecossistemas amazônicos — pontua.
*Sob supervisão de Cibelle Brito
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