O Rio de Janeiro se tornou, em setembro de 2025, palco da primeira conferência conjunta dos Institutos Nacionais de Saúde Pública (NIPH) dos países que compõem o BRICS. O encontro, realizado de 15 a 17 de setembro, marca um passo inédito na consolidação de alianças internacionais para fortalecer os sistemas de saúde e preparar respostas coletivas diante de futuras emergências sanitárias.


A reunião foi organizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Ministério da Saúde do Brasil, dentro da agenda oficial da presidência brasileira do bloco neste ano. A amplitude da iniciativa chamou atenção: além dos dez membros atuais do BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia —, estiveram presentes representantes de países convidados como Belarus, Bolívia, Cuba, Malásia e Nigéria, somando ao todo 21 nações participantes.
Cooperação em saúde como estratégia global
A cerimônia de abertura reuniu figuras centrais da saúde pública. O presidente da Fiocruz, Mário Moreira, destacou que a cooperação internacional é um eixo estratégico para ampliar a capacidade de produção, pesquisa e resposta a emergências. Segundo ele, a conferência não apenas fortalece parcerias, mas também projeta o Brasil como articulador de políticas de saúde no cenário global.
Mariângela Simão, secretária de Vigilância em Saúde e Meio Ambiente do Ministério da Saúde, reforçou a relevância do momento político. Para ela, a retração do financiamento de programas de saúde por parte dos Estados Unidos abre espaço para que os BRICS assumam protagonismo na promoção de políticas públicas fundamentadas em ciência.
O diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil, Cristian Morales, destacou o papel dos institutos nacionais de saúde na criação de inovações capazes de ampliar o acesso a medicamentos, vacinas e diagnósticos. Já o secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, enfatizou que a cooperação internacional deve resultar em benefícios concretos para os sistemas locais de saúde.


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Temas que conectam saúde e desenvolvimento
Durante os três dias de encontro, a conferência discutiu temas que extrapolam as fronteiras tradicionais da saúde pública. Foram debatidas estratégias de vigilância e resposta rápida a emergências sanitárias, ações para reduzir desigualdades no acesso a serviços, e políticas de enfrentamento às mudanças climáticas e seus impactos sobre a saúde. Também ganharam espaço as discussões sobre como combater fome e pobreza, reconhecendo que fatores sociais e ambientais estão diretamente ligados ao bem-estar populacional.
Esse olhar integrado revela um esforço de alinhar a saúde com a agenda mais ampla do desenvolvimento sustentável. Em um mundo cada vez mais vulnerável a crises globais, os BRICS pretendem não apenas fortalecer suas capacidades internas, mas também oferecer alternativas de cooperação a países do Sul Global que frequentemente ficam à margem das grandes decisões internacionais.
O papel do Brasil como anfitrião
Ao sediar essa primeira conferência, o Brasil buscou reforçar seu papel como articulador diplomático em saúde global. A Fiocruz, com sua longa trajetória de cooperação internacional e pesquisa científica, foi a anfitriã natural do evento. A instituição já desempenha papel estratégico em redes de vigilância epidemiológica e produção de vacinas, e agora atua como ponte entre diferentes países em busca de soluções coletivas.
O evento também dialoga com a tradição do Brasil em promover iniciativas de saúde com base em acesso universal, como o Sistema Único de Saúde (SUS). Ao conectar essa experiência com os desafios globais, o país reforça sua imagem de liderança em políticas públicas inclusivas.
Um compromisso para o futuro
O encontro será encerrado com a publicação de uma carta de compromissos, documento que reunirá diretrizes e propostas comuns para o fortalecimento dos sistemas de saúde nos países participantes. Embora ainda não se conheça o conteúdo integral, a expectativa é de que a carta aponte para maior integração em vigilância epidemiológica, investimentos conjuntos em inovação, e mecanismos de resposta coordenada a futuras emergências sanitárias.
Mais do que uma reunião protocolar, a conferência simboliza a busca por novos arranjos de governança global em saúde, em um momento em que crises climáticas, desigualdades sociais e tensões geopolíticas tornam-se cada vez mais entrelaçadas. Para os países do BRICS e seus parceiros, o encontro no Rio representa não apenas a construção de alianças técnicas, mas também um gesto político de afirmação coletiva diante de um cenário mundial em transformação.
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