Cientista alerta que plásticos agravam riscos à saúde na Amazônia-radardasaude

Joabe Antonio de Oliveira

19/09/2025


Estudos sobre poluição plástica na Amazônia é um problema ainda pouco dimensionado, afirma estudo (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

18 de setembro de 2025

Fred Santana – Da Cenarium

MANAUS (AM) – O cientista da Fundação Oswaldo Cruz – Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) Jesem Orellana afirmou à CENARIUM, nesta quinta-feira, 18, que a presença disseminada de plásticos nos rios, sedimentos, plantas e animais da Amazônia é uma ameaça que “agrava os riscos relacionados à saúde de populações altamente vulneráveis e que dependem do consumo diário de peixes e outras fontes de proteína animal”. O especialista é um dos autores do levantamento inédito entre a instituição e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, que analisa o tema.

Publicado na revista científica AMBIO, o trabalho é a primeira revisão sistemática que reuniu e analisou estudos sobre poluição plástica no maior bioma tropical do planeta, trazendo à tona um problema ainda pouco dimensionado e com potenciais riscos à saúde das populações humanas. A revisão identificou 52 artigos revisados por pares que documentam a presença de resíduos plásticos de diferentes tamanhos – de macro a microfragmentos – em ambientes terrestres e aquáticos da região.

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O cientista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Estamos falando de uma ameaça que certamente agrava os múltiplos riscos relacionados à saúde de populações altamente vulneráveis e que dependem do consumo diário de peixes e outras fontes de proteína animal“, alertou o epidemiologista. Além de Orellana, integram o estudo os pesquisadores Jéssica Fernandes de Melo, Daniel Tregidgo e Anamelia Jesus.

Embora não tenha sido registrada a ocorrência de nanoplásticos, os autores destacam que a ausência de estudos específicos não significa inexistência desse tipo de poluição. “No entanto, o que nosso estudo mostrou, apesar da impressionante disseminação de plásticos e seus resíduos menores, como os nanoplásticos, é que há um desconhecimento completo dessa ameaça à saúde humana na Amazônia”, avalia o cientista.

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Microplásticos na água afetam mais os vulneráveis, dizem especialistas (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Animais investigados

A fauna foi o foco predominante das pesquisas, com 32 estudos, seguida de análises em água e sedimentos. Entre os animais investigados estão peixes, invertebrados, mamíferos aquáticos e aves – muitos deles consumidos regularmente por comunidades tradicionais e moradores de zonas urbanas.

A revisão alertou que cerca de dois terços das espécies estudadas fazem parte da dieta local, o que levanta preocupações sobre segurança alimentar e exposição humana. “Os poucos estudos que encontramos mostram a presença dessa preocupante fonte de poluição em praticamente todo o ecossistema amazônico, especialmente em peixes”, afirmou o cientista.

Os registros mais antigos de contaminação datam de 2009, mas os trabalhos se intensificaram a partir de 2018, refletindo a crescente atenção científica ao tema. Ainda assim, os autores afirmam que o campo de estudos na Amazônia é jovem e incipiente, diante da magnitude do problema.

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Segundo os pesquisadores, no interior do Amazonas não há nenhum município que ofereça reciclagem de plásticos ou medidas para reduzir seu impacto (Michell Mello/Fiocruz Amazônia)

Não surpreende que alguns estudos comecem a encontrar relações entre microplásticos e problemas cardíacos, por exemplo. Como ainda sabemos pouco sobre os potenciais efeitos negativos dos microplásticos, não apenas na Amazonia, mas em todo o planeta, é fundamental que busquemos, ao mesmo tempo, alternativas ao plástico, outro derivado maléfico dos combustíveis fósseis, como também compreender melhor seus efeitos de curto, médio e longo prazo sobre a saúde humana“, pontua Jesem Orellana.

Ameaças à saúde humana

Entre os riscos apontados estão casos de morte de animais por sufocamento e emaranhamento em resíduos maiores, além da ingestão de fragmentos plásticos encontrados no trato digestivo de diferentes espécies. A revisão também relaciona a poluição plástica a potenciais ameaças à saúde humana, já que substâncias químicas associadas aos plásticos podem ser tóxicas e porque partículas microscópicas já foram detectadas em tecidos humanos em outras regiões do mundo.

Os pesquisadores defendem medidas urgentes de mitigação, como a redução de plásticos de uso único, a melhoria na gestão de resíduos sólidos em cidades amazônicas e em comunidades ribeirinhas, além da promoção de iniciativas de economia circular e campanhas educativas. Eles também pedem o avanço de pesquisas capazes de avaliar a exposição direta de populações humanas e de desenvolver métodos para identificar nanoplásticos na região.

Para os autores, a evidência já disponível comprova que a poluição plástica na Amazônia é generalizada, exigindo ação imediata. “Os dados reunidos justificam a implementação de políticas públicas para reduzir a entrada de plásticos no ambiente natural e proteger tanto a biodiversidade quanto a saúde das populações amazônicas”, conclui o estudo.

Leia mais: Desigualdade social aumenta contaminação da água por microplásticos
Editado por Jadson Lima

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