‘Cigarros pertencem aos museus’, diz diretor-geral da Philip Morris no Brasil-radardasaude

Joabe Antonio de Oliveira

14/12/2025

A indústria do tabaco já vislumbra um futuro sem cigarro, mas não sem nicotina. E, para isso, conduz ofensiva para conquistar mercados e viabilizar a regulação de produtos alternativos, por meio da interlocução com governo e Congresso.

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A Philip Morris, dona das marcas Marlboro, L&M e Chesterfield, quer trazer ao Brasil tabaco sem combustão (conhecido pela sigla Iqos no exterior) e Zyn, sachê de nicotina consumido entre gengiva e bochecha. No país, a comercialização, a importação e a propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar e análogos estão proibidas desde 2009 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ao GLOBO, o diretor-geral da Philip Morris Brasil, Branko Sevarlic, apresenta argumentos em prol do aval para venda. Na visão do executivo sérvio, o público-alvo seria o universo de 23 milhões de fumantes no país, um contingente que voltou a crescer em 2024, segundo dados do Ministério da Saúde.

Munido de uma pasta com exemplares de produtos, estudos patrocinados pela indústria e conclusões de institutos de pesquisa, apresentados ao longo da entrevista, o executivo argumenta que esses produtos trazem dano menor à saúde que o do cigarro, podem ser usados como substituto, e medidas regulatórias se encarregariam de desestimular a formação de nova base de consumidores.

Estes produtos já estão presentes em um universo de cem países, mas isso não significa consenso. Outros mercados que não regularam dispositivos eletrônicos para fumar, como vapes e produtos de tabaco aquecido, são a Turquia e a Índia.

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Além disso, desde 2023, a Organização Mundial da Saúde publicou um chamado à ação alertando para o aumento do consumo de cigarros eletrônicos pelos jovens, inclusive os que nunca fumaram. O texto argumenta que os jovens são mais suscetíveis aos efeitos da nicotina, inclusive no que se refere ao vício.

O Centro de Controle de Doenças dos EUA afirma que o cigarro eletrônico pode beneficiar adultos fumantes se usado como substituto. Mas alerta que nenhum produto de tabaco, incluindo o cigarro eletrônico, é seguro e que os cientistas ainda têm muito a aprender sobre os efeitos de uso no curto e longo prazos. O aerossol dos cigarros eletrônicos, diz o órgão, pode conter substâncias cancerígenas e partículas minúsculas que podem ser inaladas profundamente nos pulmões.

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Em fevereiro, o Parlamento da França proibiu a venda de cigarros eletrônicos descartáveis por considerá-los a porta de entrada para o vício em tabaco para adolescentes e em razão de danos ao meio ambiente. É o segundo país da União Europeia a adotar a restrição, após a Bélgica. Outros produtos alternativos são comercializados legalmente.

No Brasil, dados da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, mostram que, em 2023, 2,1% da população adulta nas capitais e no Distrito Federal usou cigarros eletrônicos. A maior prevalência foi entre jovens de 18 a 24 anos, com 6,1%.

Branko mostra dispositivo de fumo sem combustão — Foto: MArcelo Theobald / Agência O Globo
Branko mostra dispositivo de fumo sem combustão — Foto: MArcelo Theobald / Agência O Globo

Outro argumento no setor tem viés econômico, já que a demanda é atendida pelo comércio ilegal, controlado pelo crime organizado, o que significa que o governo abre mão de arrecadar impostos.

O próprio tabagismo, porém, gera perdas econômicas. Levantamento do Ministério da Saúde e do Inca, “A conta que a indústria do tabaco não conta”, mostra que para cada R$ 1 de lucro no setor, o Brasil gasta R$ 2,30 com o tratamento de doenças relacionadas ao tabaco, sem considerar os efeitos indiretos.

O executivo estima que a liberação para venda de produtos sem fumaça no Brasil resultaria em investimentos e na criação de empregos. Sevarlic, que não fuma nem usa vape, diz que “de jeito nenhum” permitiria que seus filhos usassem vape.

Hoje, 41% da receita global da Philip Morris International vem de produtos “livres de fumaça”. Eles vão significar um renascimento dessa indústria?

Percebemos que existe uma maneira de tornar um produto de nicotina menos prejudicial. Investimos mais de US$ 14 bilhões em centros de pesquisa, principalmente na Suíça e em Cingapura, onde desenvolvemos produtos de tabaco aquecido (Iqos) e começamos em 2016, na Itália e no Japão.

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Já está disponível em quase cem países, onde é regulado e legal, e ajudou mais de 40 milhões de fumantes a deixarem os cigarros e migrarem. Há dez anos, éramos uma empresa 100% voltada para cigarros, hoje representam menos de 60% da receita.

A ambição é que se tornem menos de 35% até 2030 e, não muito depois, não haverá mais necessidade de cigarros. Como nosso CEO diz, cigarros pertencem a museus.

Prevê um futuro sem cigarro?

É absolutamente possível. Temos vários países onde a incidência de fumo está bem abaixo de 5%. Na Suécia, 21% usam nicotina, mas apenas 5% usam cigarros. No Brasil, infelizmente temos 23 milhões de fumantes. A incidência de fumo está aumentando. Há muitas evidências de que adotar a redução de danos do tabaco ou tecnologias que entregam nicotina e não envolvem fumaça representa menos risco.

Muitos pesquisadores enfatizam que os produtos alternativos são atraentes para os jovens. Como vê isso?

A Suécia usa os sachês de nicotina, o Japão usa produtos de tabaco aquecido. Já Reino Unido e Nova Zelândia usam principalmente vapes. Todos esses países mostram queda acentuada no número de fumantes e de uso de nicotina. Ter esses produtos legalizados, regulados, controlados, com medidas aplicadas contra uso por menores e contra comércio ilícito, leva a uma queda acentuada no tabagismo sem aumento do consumo total de nicotina. Embora existam preocupações, esses mercados altamente desenvolvidos mostram como lidar com isso.

Branko mostra sachê da Zyn, feito para ser colocado entre a gengiva e o lábio — Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo
Branko mostra sachê da Zyn, feito para ser colocado entre a gengiva e o lábio — Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

A indústria do tabaco já subsidiou estudos que minimizam danos causados pelo cigarro à saúde. E agora subsidia estudos sobre os produtos alternativos. Por que desta vez seria diferente?

Não posso mudar a História, especialmente a da qual não fiz parte, mas posso influenciar o futuro. Há pesquisas independentes sobre o tema. O NHS, o “SUS” do Reino Unido, mostra que o vape não é totalmente isento de riscos, mas representa pequena fração do risco de fumar cigarros. E explica por que pessoas que não conseguem parar de fumar deveriam migrar para o vape.

Há pesquisa do King’s College, nada a ver com a indústria, que sugere que o vape (nesse caso, estudo baseado no Reino Unido) não é isento de riscos e não deve ser usado por quem não fuma ou não usa nicotina. Ficamos muito felizes por ter dois de nossos produtos pesquisados pela FDA (a Anvisa americana).

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A agência afirmou que há menores níveis de danos em comparação aos cigarros e à maior parte dos produtos de tabaco oral. Dizer que não há pesquisa independente é exagero. Há quantidade substancial de pesquisa independente que sugere que os produtos não são isentos de risco, que nicotina é viciante, mas, comparados ao fumo contínuo, representam, como diz o NHS, fração do dano.

Pode explicar a diferença entre os produtos?

Os vapes são dispositivos eletrônicos que aquecem um líquido que contém nicotina e, como não há combustão, não há fumaça, produz-se aerossol. É um componente químico totalmente diferente. E a toxicidade da fumaça de cigarro não é exclusiva do cigarro: toda fumaça é tóxica.

Há ainda o nicotine pouch, que é um pequeno sachê, contém nicotina e você coloca na gengiva e consome a nicotina por cerca de 30 minutos. E há o produto de tabaco aquecido. Não há líquido. Tem filtro, como o cigarro, e dentro há folhas de tabaco enroladas. Você coloca o bastão dentro e o dispositivo aquece o tabaco, o suficiente para criar vapor e extrair sabor e nicotina, mas sem queima.

O produto de tabaco aquecido tem cor, design. Pode ser atraente para os jovens?

Se regularmos, temos capacidade de controlar. Segundo pesquisa da USP, há mais de dez milhões de pessoas no Brasil usando produtos de tabaco sem fumaça, seja vape, tabaco aquecido ou sachês. Todos abastecidos pelo crime organizado. E o governo perde R$ 13,7 bilhões por ano em benefícios econômicos. A demanda existe e é atendida pelo crime. Seria um grande serviço à segurança pública tirar esse dinheiro do crime organizado.

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Mas essa lógica vale para qualquer substância ilícita nas mãos do crime organizado. Sem comparar os produtos, o mesmo se aplica às drogas: o dilema entre enfatizar a luta contra o crime organizado ou autorizar a venda…

Obrigado por fazer essa distinção. Cem países no mundo, todos os países da OCDE, todo o mundo desenvolvido, regulam esses produtos e criam regras sobre como empresas legais devem fabricar, comercializar e vender produtos para proteger menores e pessoas que não usam nicotina.

O que acontece no Brasil não é o padrão. Ninguém gosta, ninguém deseja que exista, mas sabem que é melhor regular, controlar, educar e fiscalizar do que deixar como está aqui.

Os cigarros tradicionais têm enorme mercado ilegal no país. Seria viável fiscalizar também os novos produtos?

Seis anos atrás, a fatia de cigarros ilegais no consumo total no Brasil era de 57%. No ano passado era de 32%. O país já está fazendo um grande progresso na redução do ilícito.

A cada R$ 1 de lucro da indústria, o país gasta R$ 2,30 para tratar doenças relacionadas ao tabagismo…

Ao migrar para produtos sem fumaça, os suecos reduziram em 60% as mortes em comparação com números da União Europeia. Isso tem impacto no custo do sistema de saúde. Adotar a redução de danos do tabaco é uma forma de reduzir a pressão sobre o sistema público de saúde.

Quais restrições devem ser aplicadas para que não se crie nova base de consumidores?

As medidas que já existem para os cigarros, por que não aplicar o mesmo?

No Brasil, embalagens de cigarro trazem imagens de danos à saúde. Se forem regulamentados, esses itens deveriam ter essas imagens?

Produtos de nicotina devem ter aviso de que não são isentos de risco e de que nicotina é viciante. E não devem ser usados por quem não usa nicotina. Regulação e fiscalização devem ser proporcionais ao dano que o produto causa: cigarros no mais alto nível de regulação, e estes menos.

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Isso vale para a tributação? O Brasil aprovou o imposto do pecado com taxação superior para cigarros.

Todos os produtos de nicotina devem ser regulados e taxados. Os níveis devem ser proporcionais ao dano que causam. Se as pesquisas mostram que os sem fumaça são menos arriscados, o imposto deve ser proporcionalmente menor.

Qual o potencial do mercado?

Todo fumante que não quer parar de fumar deveria migrar. Temos 23 milhões de fumantes no Brasil.

Mas a conta não fecha. Se não houver renovação, como essa indústria vai sobreviver?

Desde 1990 a prevalência global do tabagismo caiu. Mas o número de fumantes no mundo aumentou, porque a população cresceu. Ainda hoje, há mais de 1 bilhão de fumantes, que podem migrar para os novos produtos. Somos uma das maiores empresas do mundo. Já nos reinventamos algumas vezes. E vale para quando nos transformarmos de novo.

A Anvisa não acolheu os argumentos da indústria. Sua aposta é o Congresso?

Temos um papel em fornecer essa informação. E obviamente discutir isso com o Congresso, o Poder Executivo ou com a própria Anvisa.

Há previsão de criar empregos?

Há pesquisa da Fiemg que mostra que, direta e indiretamente, pode gerar mais de 100 mil vagas no cultivo de tabaco, cadeia de suprimento e varejo.

Não mais. Nem uso vape, nunca usei cigarros eletrônicos. Usei por um tempo produtos de tabaco aquecidos.

Permitiria que seus filhos usassem vape?

De jeito nenhum. Meu incentivo a qualquer pessoa menor de idade ou que não usa nicotina é nunca usar nicotina. Meus filhos são pequenos, mas, quando chegar a hora, a conversa vai ocorrer, e o desencorajamento estará presente.


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