

Realizado pelo IPHAN em parceria com o Inepac e a Fiocruz, o Seminário Estadual para a Preservação de Bens Móveis e Integrados já passou por cidades como Petrópolis, Vassouras e Campos, retornando agora ao Rio com uma programação que ocupa três marcos institucionais: a sede do IPHAN (RB 46), o campus da Fiocruz em Manguinhos (Pavilhão Arthur Neiva) e o Sítio Roberto Burle Marx, em Barra de Guaratiba.
O tema escolhido para este ano, “Patrimônio em crises: preservação, resistência e gestão de riscos”, é um chamado direto aos dilemas contemporâneos. Em tempos de restrições orçamentárias, ameaças ambientais e crises políticas, discutir estratégias de proteção do patrimônio significa reafirmar que memória e cultura não são supérfluas, mas sim pilares de identidade e cidadania.

Interessados ainda podem se inscrever em: https://forms.gle/RqbrTMJxLgpMZy4FA
Uma semana de debates fundamentais
Dia 22 (IPHAN – Centro): abertura com mesa institucional reunindo representantes do IPHAN, Inepac, Fiocruz e SECEC, seguida da conferência sobre a restauração dos bens móveis e integrados do Palácio Gustavo Capanema e do edifício RB46.
Dia 23 (Fiocruz – Manguinhos): o valor cultural dos acervos em pauta. Haverá falas sobre a presença negra nas coleções do Museu Nacional de Belas Artes, o futuro do Templo da Humanidade, a trajetória do Museu Bispo do Rosário e os riscos enfrentados pelas coleções biológicas do IOC/Fiocruz durante a ditadura. À tarde, mesas tratarão do processo de tombamento do prédio do DOPS e da ressignificação das coleções do Museu Nacional.
Dia 24 (Fiocruz – Manguinhos): foco na participação social e no engajamento comunitário. Serão apresentados casos da Igreja São Daniel Profeta em Manguinhos, do terreiro Egbe Ile Iya Omidaye Asé Obalayo, da curadoria participativa do Museu dos Povos Indígenas e do projeto Nosso Sagrado, além de debates sobre a relevância do Renascença Clube como espaço de memória e resistência. Destaca-se ainda a fala do provedor da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, a respeito da complexidade e dos desafios na gestão do patrimônio sob responsabilidade das irmandades e confrarias.
Dia 25 (Fiocruz – Manguinhos): o eixo será a gestão de riscos. Em destaque, experiências do Sistema de Informação da Casa de Oswaldo Cruz, inventários do patrimônio de ciência e tecnologia, organização da reserva de azulejos do Palácio Capanema e discussões sobre a formação de conservadores e restauradores. A gestão de riscos será apresentada como estratégia transversal de preservação.
Dia 26 (Sítio Roberto Burle Marx): encerramento com visita guiada e falas institucionais, oferecendo aos participantes a chance de vivenciar, no espaço, a complexidade do patrimônio integrado, em que natureza, arte e arquitetura formam um todo indissociável. Uma carta com recomendações e considerações finais será redigida e publicada pelos organizadores nas semanas seguintes.
Por que este seminário importa
O Seminário para a Preservação de Bens Móveis e Integrados é um dos raros espaços de diálogo sobre essa categoria do patrimônio material, muitas vezes escanteada em fóruns que privilegiam o debate arquitetônico e urbanístico.
Mais do que encontro técnico, ele se afirma como trincheira contra o esquecimento, reafirmando a centralidade do patrimônio na vida coletiva. Ao reunir pautas tão diversas — do racismo estrutural nas práticas museológicas à preservação de acervos científicos e religiosos, passando pela memória da ditadura e pela resistência das comunidades tradicionais —, o evento demonstra que preservar é também lutar por justiça, diversidade e inclusão.
Às vésperas de sua abertura, a expectativa é que esta edição seja não apenas vitrine de boas práticas, mas sobretudo um chamado à ação. Em tempos de vulnerabilidade institucional e de cortes sucessivos em cultura e ciência, a proteção dos bens móveis e integrados torna-se ato político. O seminário nos lembra: sem memória, não há futuro.