Estudo analisa desafios da comunicação sobre o HIV-radardasaude

Joabe Antonio de Oliveira

01/11/2025

selo the conversation Estudo analisa desafios da comunicação sobre o HIV-radardasaude

Por Claudia Mora Cárdenas e Simone Souza Monteiro*

Desde o surgimento dos primeiros casos de Aids no Brasil, no início da década de 1980, até hoje, pesquisadores e pesquisadoras das áreas de comunicação, sociologia e saúde pública desenvolvem estudos sobre as campanhas de prevenção ao HIV. Os trabalhos analisam a produção, difusão e circulação de folders, cartilhas, cartazes e mídias sociais, entre outras peças de comunicação, e como elas são interpretadas pelos diferentes grupos sociais.

O uso de estratégias de comunicação massiva, marketing e campanhas voltadas para a divulgação de tecnologias de prevenção de doenças fazem parte das ações em saúde pública do governo e da sociedade civil organizada. A análise sobre o conteúdo dessas estratégias e como elas são entendidas pelos grupos populacionais destinatários possibilita identificar seus alcances e a necessidade de reformulação e aperfeiçoamento.

Diante dos avanços no campo da prevenção e do tratamento, somados ao contexto socioeconômico e político global e nacional, as atuais políticas de controle da epidemia de Aids têm focalizado a identificação precoce e tratamento das pessoas infectadas para reduzir a circulação do HIV na população e interromper a cadeia de transmissão. Nesta direção, tem sido priorizada a expansão e diversificação da oferta de testagem, assim como das profilaxias pré exposição (PrEP) e pós exposição (PEP) ao vírus HIV.

Uma avaliação de cartazes e folders

A profilaxia pré exposição envolve o uso regular de antirretrovirais antes da exposição ao HIV, sendo indicada para todos os adultos e adolescentes sexualmente ativos sob risco aumentado de infecção pelo HIV. A PEP é prevista nos casos de acidente profissional, violência sexual e sexo desprotegido, devendo ser usada até 72 horas depois da exposição ao HIV.

Considerando que as profilaxias pré e pós-exposição estão disponíveis no SUS e têm grande potencial para o controle da epidemia de Aids, de que forma essas estratégias vêm sendo divulgadas no Brasil? O governo federal almeja ampliar o uso da PrEP em até 300% até 2027, mas ainda não está clara qual é a importância dada à comunicação nas ações de ampliação do uso da profilaxia.

A partir da parceria entre o Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz e o Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro da Uerj, desenvolvemos um estudo que explora os simbolismos de folders e cartazes produzidos por instituições governamentais e pelo movimento social do Rio de Janeiro.

A investigação também analisou as concepções de profissionais de saúde e gestores do Rio de Janeiro e do Ministério da Saúde do Brasil acerca da divulgação oficial da PrEP e da PEP. Essas indagações fizeram parte de uma pesquisa mais ampla, realizada entre 2019-2021, com usuários, profissionais e gestores de programas municipais de HIV/Aids na região metropolitana do Rio de Janeiro, que contou com o financiamento do Programa Inova geração do conhecimento da Fiocruz.

Rotatividade dos profissionais e conservadorismo

No que se refere às mensagens das peças de comunicação coletadas em serviços de saúde do Estado do Rio de Janeiro, o estudo mostrou uma ênfase na dimensão clínica das profilaxias. Isso ficou expresso na centralidade da figura do médico e nas ferramentas digitais para acessá-las. Apesar da sua importância, as implicações do uso das profilaxias no campo da sexualidade não são abordadas nas mensagens visuais e de texto.

A pesquisa apontou que as estratégias de comunicação para divulgação dos protocolos e demais diretrizes sobre novas tecnologias começava pelas equipes de profissionais de saúde. Dada a alta rotatividade desse grupo na rede pública, essas ações foram qualificadas como um “trabalho de formiguinha”, de acordo com gestores e gestoras e profissionais de 5 municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro (Niterói, Rio de Janeiro, Duque de Caxias, São Gonçalo e Nova Iguaçu).

Constatamos também que houve empecilhos na implementação da PrEP entre profissionais tidos como “conservadores”, indicando restrições de cunho moral na oferta dessa tecnologia preventiva. Além disso, em contraste com o período em que o Ministério da Saúde produzia campanhas amplas e distribuía peças de comunicação em escala nacional —especialmente na década de 2000—, os interlocutores foram econômicos ao mencionar campanhas ou investimentos visíveis na comunicação e apropriação de informações sobre PrEP e PEP. As mídias sociais, ONGs de referência e equipamentos das políticas de cidadania LGBTQIA+ foram, por sua vez, as vozes mais frequentemente evocadas.

A comunicação das estratégias preventivas em pauta parece priorizar a disponibilidade dos insumos biotecnológicos (medicamentos, testes e preservativos, por exemplo). Sua enunciação é relativamente discreta, sendo protagonizada por múltiplas vozes. Daí emerge mais um desafio para atores e instituições encarregados de promover as profilaxias PrEP e PEP: identificar símbolos, linguagens e canais de comunicação para reduzir a distância entre o público destinatário e as estratégias preventivas.

O desafio da comunicação

Os desafios da expansão das profilaxias preventivas no Brasil aumentam frente às disparidades no acesso. Como revelado pelo Relatório de Monitoramento de PrEP e PEP de 2023, o predomínio do uso da PrEP entre homens gays e bissexuais com alta/média renda e escolaridade contrasta com a reduzida demanda de populações igualmente vulneráveis ao HIV, como mulheres transexuais, trabalhadoras sexuais, adolescentes, gays/HSH (homens que fazem sexo com homens) de baixo poder aquisitivo e de raça/cor parda e preta. Segundo o relatório, o acesso à PEP predomina entre homens gays e outros HSH cisgênero (62%), com discreto incremento entre homens transexuais (2%) e mulheres transexuais/travestis (4%), e declínio entre mulheres cisgênero (33%).

As evidências podem ser compreendidas por um certo apagamento da Aids enquanto problema social na última década, agravado pela pandemia de covid-19, pelo recrudescimento do discurso conservador e pelo desmonte das políticas de saúde sexual e reprodutiva e direitos humanos do governo federal de 2019 a 2022.

A discussão levantada pelo estudo visa a estimular a reflexão sobre as implicações da fragilização da comunicação pública da resposta à Aids para a efetivação do direito à prevenção e indagar sobre as atuais perspectivas. A campanha de prevenção do governo federal lançada no período do carnaval de 2025 retratou distintos contextos, interações sexuais e afetivas e focalizou na oferta de diversos insumos preventivos e suas possibilidades de combinação (testagem, lubrificante, preservativo interno e externo, PEP e PrEP).

Sob a compreensão de que as estratégias de comunicação sobre prevenção do HIV são práticas de Estado, estudos posteriores precisam se deter sobre esses processos, e suas implicações simbólicas e programáticas.


*Claudia Mora Cárdenas é professora associada do Instituto de Medicina Social da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Simone Souza Monteiro é pesquisadora em Saúde Pública do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).


Este texto foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o texto original aqui.




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