Favela e Universidade se encontram na Fiocruz para celebrar produção de conhecimento popular-radardasaude

Joabe Antonio de Oliveira

10/12/2025

“Acreditamos que a produção de conhecimento nas favelas não é apenas legítima, mas fundamental para transformar a relação entre territórios populares e a universidade”, destacou Natã Neves, coordenador do Fórum Favela Universidade, durante o encontro “Ciência com os pés no chão: diálogos entre favela e universidade”, realizado pela Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz e pelo Museu da Vida Fiocruz. O evento, parte das comemorações dos 125 anos da Fiocruz, ocorreu na última sexta-feira (5), no Salão de Conferências do Centro de Documentação e História da Saúde (CDHS), no campus Manguinhos. A atividade celebrou a força da produção acadêmica das e sobre as favelas, marcada pelo lançamento dos Catálogos Favela Universidade – Maré e Manguinhos e do livro É Necessário o Coração em Chamas – Contos de Manguinhos e Maré.

A mesa de abertura contou com a participação de Luiz Amorim, chefe do Departamento do Museu da Vida Fiocruz e representante da direção da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz); Leonídio Santos, coordenador da Cooperação Social da Fiocruz;  Alessandro Batista, representante do Museu da Vida Fiocruz e coordenador do projeto Tecendo Diálogos; Renata Soares, representante da Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ (PR5/UFRJ); Lourrane Cardoso, coordenadora do Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro; e Natã Neves, coordenador do Fórum Favela Universidade. Também estiveram presentes os deputados federais e autores de emendas parlamentares que financiam o projeto Tecendo Diálogos, Tarcísio Motta e pastor Henrique Vieira. 
 

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Foto: Julia Bimi

“Na Fiocruz, entendemos que a contribuição das favelas e periferias é central para o debate de uma ciência cidadã e popular. Os catálogos permitem orientar estudantes que pesquisam esses territórios, com foco na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, em que a saúde seja um indicador de qualidade de vida e de bem viver”, afirmou Leonídio Santos, durante a mesa institucional

Luiz Amorim, diretor da COC, descreveu criticamente o contexto em que o projeto se desenvolve. “Também no Brasil a Academia é uma instituição eurocêntrica – sendo assim branca, masculina. A gente tem dados do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico do Brasil que mostram, por exemplo, que apenas 12% dos bolsistas de produtividade se declaram pretos e pardos, contra 70% que se declaram brancos”, sinalizou. Amorim também destacou as assimetrias de gênero relacionadas às bolsas de produtividade e cargos de liderança. O dirigente saudou o projeto por contribuir para que o ambiente acadêmico se torne mais plural e que essas desigualdades no acesso a ele sejam reduzidas.

A representante da PR5/UFRJ, Renata Soares, celebrou a parceria com a Fiocruz, ativa desde 2017. “Precisamos, cada vez mais, institucionalizar essa parceria, efetivar o nosso acordo de cooperação e abrir chamadas para que os projetos de extensão dialoguem com o Fórum Favela-Universidade, o Fórum de Pré-Vestibulares Populares e os outros GTs de saúde mental. Mais do que quebrar os muros e levar a Universidade para fora, precisamos trazer a potência dos territórios para dentro da Universidade.”

A coordenadora do Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro, Lourrane Cardoso, destacou a importância do projeto Tecendo Diálogos no fortalecimento dos pré-vestibulares populares do estado. “Nós começamos fazendo um mapeamento, e é muito bom saber que hoje temos mais de 200 pré-vestibulares identificados em todo o Rio de Janeiro. O Tecendo Diálogos é um espaço que reúne estudantes periféricos e professores de pré-vestibulares populares para produzir e divulgar ciência nos territórios, e isso é fundamental.”

Na sequência, os parlamentares Tarcísio Motta e pastor Henrique Vieira ressaltaram o papel da iniciativa para democratizar o conhecimento. “Fico muito feliz de apoiar esse projeto que tece diálogos entre favela e universidade, entre ciência e saber comunitário. Pessoas que antes eram excluídas do ambiente acadêmico agora ocupam esse espaço e constroem outras realidades”, afirmou Tarcísio Motta.

“O saber do território, em diálogo com a produção acadêmica, gera algo novo, capaz de transformar realidades e produzir uma ciência engajada na redução da desigualdade, na erradicação da pobreza e da fome, e na garantia de direitos. Uma ciência voltada a uma saúde mais humanizada, à educação popular e ao fortalecimento das políticas públicas”, acrescentou pastor Henrique Vieira. 
 

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Foto: Julia Bimi

Catálogos Favela Universidade – Maré e Manguinhos

Os catálogos Favela Universidade – Maré e Manguinhos foram criados para reunir as produções acadêmicas referentes a esses territórios, contribuindo para aprofundar as discussões sobre o conhecimento produzido sobre e a partir das favelas. Organizados pelo Fórum Favela Universidade, com apoio da Fiocruz através do projeto Tecendo Diálogos e Construindo Conhecimento, os materiais apresentam 348 referências bibliográficas sobre a Maré e 128 sobre Manguinhos, elaboradas tanto por pesquisadores dos próprios territórios quanto por acadêmicos de outras regiões.

A iniciativa fortalece a preservação da memória, democratiza o acesso à informação, amplia a pesquisa-ação e subsidia a criação de políticas públicas. O levantamento também contribui diretamente para a promoção da saúde, ao favorecer a compreensão dos determinantes sociais e servir como ferramenta de integração de saberes. Além de incentivar abordagens interdisciplinares na saúde coletiva, amplia o acesso às produções acadêmicas e devolve às comunidades o conhecimento produzido sobre elas. 

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Foto: Julia Bimi

“Esses catálogos evidenciam a relevância das favelas como objeto de estudo. Esse reconhecimento se intensifica à medida que pessoas periféricas passam a frequentar a universidade e deixam de ser presenças raras, especialmente após as políticas de ação afirmativa”, destacou Luiz Lourenço, coordenador técnico do projeto Tecendo Diálogos.

O lançamento também celebrou os cinco anos do projeto. “O Tecendo Diálogos não parte da academia para a sociedade; ele nasce da sociedade e chega à academia. Precisamos de uma divulgação científica que contribua para uma ciência comprometida com a vida real das pessoas, e menos com interesses comerciais. A produção dos catálogos já mostra que as políticas públicas estão dando resultado”, afirmou Alessandro Batista.

Acesse o Catálogo Favela Universidade – Maré aqui. 

Acesse o Catálogo Favela Universidade – Manguinhos aqui. 

É Necessário o Coração em Chamas – Contos de Manguinhos e Maré

Além dos catálogos, foi lançado o livro É Necessário o Coração em Chamas – Contos de Manguinhos e Maré, organizado conjuntamente pelos projetos Tecendo Diálogos e Periferia Brasileira de Letras — o primeiro, fruto da parceria entre a Coordenação de Cooperação Social da Presidência (CCSP), Museu da Vida Fiocruz e organizações comunitárias da Maré e de Manguinhos; o segundo, coordenado diretamente pela CCSP. A obra reúne textos de moradores das favelas dos dois territórios, produzidos durante as residências literárias conduzidas pelos autores, e contou com a colaboração do Museu da Maré e do Ecomuseu de Manguinhos. 

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Foto: Julia Bimi

“O Grupo de Trabalho Lutas e Letras está inserido no projeto Tecendo Diálogos, e foi por meio dele que realizamos a residência literária. O grupo passou a compreender que a promoção da saúde nos nossos territórios também envolve arte e cultura, como mecanismos de letramento científico, construção de senso crítico e reflexão sobre as pessoas e os lugares que habitam”, afirmou Nlaisa Luciano, educadora na residência literária.

Uma das autoras do livro, Letícia Aliveira, contou como a residência literária ajudou a fortalecer sua confiança na escrita. “Eu sempre quis ser escritora, mas achava que minha escrita nunca estava boa; a gente acaba menosprezando a própria capacidade. Quando somos faveladas e estamos em um ambiente universitário, muitas vezes não nos enxergamos como merecedoras daquele espaço”, relatou. “Com a oficina, eu finalmente me percebi como escritora, capaz de valorizar meu poder de escrita e as histórias que posso contar. A gente não precisa caber em uma caixinha, a favela é potente em escrita”.

 

Assista o Encontro “Ciência com pés no chão: Diálogos entre Favela e Universidade na íntegra: 

Manhã aqui.  

Tarde aqui. 


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