Fiocruz publica cartilha sobre acesso a cuidado em saúde mental em territórios vulnerabilizados-radardasaude

Joabe Antonio de Oliveira

05/11/2025

Mariana Moebus, AFN

A promoção da saúde mental de defensores e defensoras de direitos humanos tem se tornado um tema cada vez mais urgente diante das condições de vulnerabilidade e violência a que esses agentes estão expostos. Com o objetivo de fortalecer as redes de cuidado, o projeto Cuidar de Quem Cuida, uma iniciativa da Fiocruz, lançou uma cartilha que mapeia dispositivos de atenção psicossocial em seis territórios vulnerabilizados do Estado do Rio de Janeiro: Duque de Caxias, Mesquita, Campo Grande, Maré, São Gonçalo e Seropédica.

O lançamento ocorreu em 26 de outubro, durante uma imersão de dois dias do projeto Rede de Defensores de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, uma iniciativa da Cooperação Social da Fiocruz. O encontro reuniu defensoras e defensores populares participantes das três edições do projeto para um fim de semana de trocas, articulações e fortalecimento de parcerias em um sítio localizado em Paty do Alferes (RJ).

“Esta cartilha é fruto de um trabalho afetivo e de escuta junto a defensores de direitos humanos que estão sempre na linha de frente de cuidados coletivos e nem sempre conseguem cuidar de si. O material foi construído de forma participativa, na perspectiva de encurtar caminhos de acesso a espaços de cuidado em saúde mental, especialmente em territórios marcados por múltiplas violências, violações de direitos e difícil acesso a serviços públicos”, afirmou o coordenador do projeto, Gabriel Simões.

Saúde mental nas favelas e periferias

Em 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório apontando que mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem com condições de saúde mental, como ansiedade e depressão. O dado reforça a urgência do tema e a necessidade de que a pauta seja tratada como prioridade pelo poder público. O cenário torna-se ainda mais crítico ao considerar como esta questão afeta os territórios de favela, onde os determinantes sociais, como violência armada, precariedade habitacional, racismo e falta de acesso a serviços públicos, alimentam um ciclo de adoecimento mental entre os moradores.

“A saúde mental é um problema global, principalmente quando atrelado às violências. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) vem alertando que os governos dos países precisam se atentar a isso e cuidar dos seus cidadãos. A saúde mental faz parte de tudo, desde o momento em que você acorda até conseguir um bom emprego e ter uma boa estrutura familiar”, afirma psicóloga Grazielle Nogueira, pesquisadora do projeto.

Uma pesquisa divulgada em 2023 pelo Centro de Estudos da Segurança e Cidadania (CESeC) mostrou que a exposição à violência policial em territórios de favela está associada a um risco significativamente maior de adoecimento físico e psicológico, incluindo hipertensão, insônia, ansiedade e depressão. O estudo, realizado com 1,5 mil moradores maiores de 18 anos em seis favelas do Rio, apontou que cerca de 51% dos moradores das comunidades mais violentas apresentam alguma dessas condições de saúde, e 29,6% apresentam sintomas de depressão

“Não podemos enxergar a saúde mental como um privilégio. Temos um sistema de saúde único e universal no Brasil e o direito à saúde é garantido pela Constituição. A cartilha é um passo inicial para que possamos avançar na redução dos impactos à saúde mental nas favelas e periferias. Precisamos pensar esses territórios não apenas como espaços vulnerabilizados, mas como lugares de vida e produção de saúde. As pessoas que estão ali não apenas resistem, elas existem”, destacou Grazielle Nogueira.

Mapa de Serviços de Saúde Mental

A cartilha Cuidar de Quem Cuida: Mapa de Serviços de Saúde Mental nas Periferias do Rio de Janeiro apresenta ações, serviços e equipamentos da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), parte do Sistema Único de Saúde (SUS), voltados à promoção e à democratização do acesso à saúde mental. O material orienta a população sobre quais equipamentos podem ser acionados para a entrada no sistema, o atendimento continuado, as situações de risco e o apoio social disponível. Além do mapeamento realizado em seis territórios do Rio de Janeiro, a cartilha reúne um compilado de projetos e ações sociais de cuidado que podem ser acompanhados nas redes sociais, e inclui um glossário com termos, siglas e serviços relacionados à saúde mental.

“Tornar a informação e o acesso à saúde mais simples aproxima a população dos serviços do seu território, além de ampliar a compreensão de que o acesso à saúde é um direito constitucional. O processo de elaboração da cartilha partiu também da necessidade de pensar o cuidado em saúde mental para além dos muros institucionais. A cartilha não é apenas um mapeamento de serviços, mas também uma importante ferramenta de combate às desigualdades e iniquidades em saúde”, afirmou a psicóloga Laís Mariano, pesquisadora do projeto.

A ideia do mapeamento surgiu a partir da cartografia social realizada pela primeira turma da Rede de Defensores de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, na qual os participantes relataram dificuldades de acesso a serviços públicos voltados à saúde mental. A partir do diagnóstico, o projeto Cuidar de Quem Cuida teve como objetivo principal tornar essas informações mais acessíveis, buscando também fortalecer o cuidado coletivo por meio do diálogo e da articulação comunitária.

Para a criação da cartilha, o projeto promoveu rodas de conversa com moradores, em parceria com lideranças locais, para ouvir seus relatos e demandas em relação aos serviços de saúde mental. Entre os principais pontos levantados estavam a falta de conhecimento sobre saúde mental e sobre a Raps, a ausência de políticas públicas efetivas, a precariedade dos equipamentos e o impacto da violência e da política de segurança pública na saúde mental dos moradores.

“Criar a cartilha em conjunto com os moradores dos territórios foi essencial para expandirmos o trabalho da Fiocruz para mais regiões e mostrar que a saúde é um direito. Pensar a saúde a partir dos determinantes sociais significa compreender que ela não é apenas a ausência de doença, mas também está relacionada onde você mora, como você vive, o transporte de que precisa, a distância até o serviço, entre outros. A nossa proposta é discutir a saúde mental de um outro lugar, não o do estigma, mas o do cuidado de si e do outro”, afirmou a psicóloga Dejany Ferreira, supervisora do projeto.

Imagem: Arte sobre silhueta – Flaticon e Pixabay.


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