Pesquisadores da Fiocruz Pernambuco identificaram um novo subgênero do coronavírus em morcegos que habitam o Nordeste brasileiro. A descoberta foi registrada em duas espécies e publicada na revista científica Virus Evolution, envolvendo vírus do grupo dos betacoronavírus, o mesmo gênero do Sars-CoV-2 e do Mers-CoV.

A identificação foi detalhada pelo pesquisador em saúde pública Gabriel Luz Wallau, do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), em entrevista ao Diario de Pernambuco. Segundo ele, o estudo foi desenvolvido entre 2018 e 2019, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Bernhard Nocht Institute for Tropical Medicine, da Alemanha.

As análises utilizaram a técnica de metatranscritômica, que permite mapear todo o material genético presente nas amostras coletadas. De acordo com Wallau, esse método possibilita a identificação de vírus que não seriam detectados por exames tradicionais, como o PCR.

As coletas foram realizadas principalmente em cavernas de Pernambuco e de outros estados do Nordeste, envolvendo centenas de morcegos de diferentes espécies. Em 19 indivíduos, pertencentes a duas espécies, os cientistas identificaram o novo subgênero, denominado ambecovírus (American betacoronavirus).

Segundo o pesquisador, uma das espécies nas quais o vírus foi encontrado é estritamente cavernícola, o que reduz significativamente o contato com humanos. Ele destacou ainda que o novo subgênero apresenta diferenças genéticas relevantes em relação a outros coronavírus já conhecidos.

Apesar de integrar o mesmo gênero de vírus associados a surtos em humanos, não há evidências de que o novo vírus seja capaz de infectar pessoas. “Até o momento, não existe indicação de risco para humanos, embora estudos adicionais ainda sejam necessários”, afirmou Wallau.

O pesquisador ressaltou que a descoberta não altera as estratégias atuais de vigilância sanitária, que seguem focadas em coronavírus já identificados em humanos. No entanto, ele destacou a importância do monitoramento de vírus em animais como forma de prevenção de futuras epidemias.

Os próximos passos da pesquisa incluem novos estudos laboratoriais e de campo para avaliar a circulação do vírus em outras espécies e sua capacidade de infectar células, o que permitirá compreender melhor eventuais riscos no futuro.