Uma nova pesquisa da Fiocruz realizada de 2022 a 2024 revela um cenário de desigualdades enfrentado pelas juventudes indígenas e negras em relação à saúde mental. Enquanto jovens indígenas enfrentam alta taxa de mortes relacionadas à saúde mental, jovens negros têm acesso dificultado ao cuidado e atendimento psíquico, sofrendo ainda assim alto número de internações.
O estudo Informe II: Saúde Mental, produzido pelos pesquisadores da Fiocruz, mostra que jovens indígenas registram a maior taxa do país de mortes relacionadas à saúde mental (suicídio) alcançando 62,7 casos por cem mil habitantes, um patamar muito acima da média nacional. Entre homens indígenas de 20 a 24 anos, a taxa chega a 107,9 por cem mil habitantes, tornando esse grupo o mais atingido entre todos os recortes populacionais analisados pelo estudo.
O documento aponta que, entre mulheres indígenas de 15 a 19 anos, a taxa também supera a média das demais populações jovens, chegando a 46,2 por cem mil habitantes. Os dados revelam as vulnerabilidades que atravessam territórios indígenas e contribuem para os números: isolamento de serviços, barreiras culturais de atendimento e impactos de conflitos territoriais, violências e ausência de políticas contínuas de proteção.
Jovens negros enfrentam maior exposição a internações, violências e obstáculos de acesso
Embora o informe apresente dados consolidados para toda a juventude, ele evidencia desigualdades associadas a raça e gênero. Jovens negros estão mais expostos às internações relacionadas à saúde mental, às violências e aos determinantes sociais que limitam o acesso precoce ao cuidado.
O documento mostra que apenas 11,3% dos atendimentos de jovens na Atenção Primária à Saúde (APS) são para questões de saúde mental, proporção inferior à observada na população em geral (24,3%). A baixa procura expressa uma desigualdade histórica: jovens negros costumam ter maior dificuldade de acesso ou encontram serviços pouco preparados para atender às suas demandas específicas, que incluem racismo, precarização do trabalho e violências no território.
No total, a taxa de internações da juventude alcança 569,5 casos por cem mil habitantes, número que cresce para 624,8 entre jovens de 20 a 24 anos e 719,7 entre 25 e 29 anos. Jovens negros aparecem com maior peso nesses registros, reflexo da intersecção entre desigualdade racial, vulnerabilidade econômica e ausência de políticas efetivas de prevenção, aponta o relatório.
Homens jovens são maioria nas internações, com impacto maior entre negros
O informe aponta que homens jovens representam 61,3% das internações relacionadas à saúde mental, com taxa de 708,4 internações por cem mil habitantes. Esse recorte inclui proporção mais elevada de jovens negros, que vivenciam concentração de violências, trabalho precário e padrões sociais que dificultam a busca por cuidado.
O abuso de substâncias psicoativas é a principal causa das internações de homens jovens. Em 38,4% dos casos, o motivo é o uso de drogas, sendo que 68,7% desses episódios envolvem múltiplas substâncias. Como indicam pesquisadores da Fiocruz, elementos como pressão social por autossuficiência, desigualdades econômicas e expectativas de desempenho masculino funcionam como gatilhos para o adoecimento.
Falhas de acesso e políticas insuficientes ampliam riscos na juventude
Os pesquisadores destacam que as taxas elevadas entre a população jovem não refletem apenas comportamentos individuais, mas falhas estruturais. Violências, mortes evitáveis, sofrimento psíquico e uso problemático de substâncias aparecem com mais intensidade entre jovens indígenas e negros, indicando sistemas de cuidado que não respondem às necessidades desses grupos.
Para o coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho, a juventude permanece subatendida.
“Os jovens são aqueles que mais sofrem com saúde mental, violências e acidentes de trabalho, mas são também os que menos procuram e encontram cuidados em saúde, menos param de trabalhar quando estão doentes”, pondera o coordenador em nota da Fiocruz. “Muitas vezes os jovens, a sociedade e o Estado agem como se eles tivessem que aguentar qualquer coisa exatamente por serem jovens.”
O informe defende o fortalecimento da vigilância em saúde mental e a criação de políticas com recortes étnico-raciais e de gênero. “Cuidar da saúde mental da juventude é também cuidar do presente e do futuro do país”, conclui o documento.
O levantamento foi realizado pela Agenda Jovem Fiocruz e pela Escola Técnica de Saúde Joaquim Venâncio, com análise dos dados do Sistema Único de Saúde (SUS) de 2022 a 2024.
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