Manifesto por uma Segurança Pública Cidadã no Rio
Documento lançado pela Fiocruz, Cebes e dezenas de entidades é resposta à ação policial mais letal da história do Rio de Janeiro
Em função da mais letal operação policial da história da cidade do Rio de Janeiro, ocorrida na terça-feira (28/10), que resultou na morte de 119 pessoas – número que supera o Massacre do Carandiru, em São Paulo -, o Conselho Deliberativo (CD) da Fiocruz, ao lado do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e dezenas de instituições públicas e entidades civis, divulgou nesta quarta-feira (29/10) um manifesto em que clama por uma Segurança Pública Cidadã.
O texto enfatiza que “os impactos da violência armada no Rio de Janeiro não são novidade e vão muito além das estatísticas de criminalidade. Agudizam uma crise de natureza socioeconômica que há muito corrói o cotidiano das pessoas, o refúgio de suas casas e mesmo seus momentos de lazer, subtraindo a integridade física e mental de comunidades inteiras”.
Para os signatários, “política de segurança pública se constrói com etapas planejadas e estruturantes para resultados socialmente justos e duradouros, não pela rotina brutalizante que sobrecarrega comunidades já castigadas pelo crime e pela precarização”. O manifesto traz uma lista de exigências às autoridades e ressalta que “é preciso valorizar o diálogo, a paz e a vida”.
Manifesto por uma Segurança Pública Cidadã!
Nós, abaixo assinados, repudiamos a operação policial conjunta realizada no Rio de Janeiro, e em partes de Niterói e São Gonçalo nesta terça, 28 de outubro, que evidenciou a insustentabilidade das políticas estaduais de segurança. Semana após semana, a invisibilidade administrativamente consentida das “zonas de exceção” e a falácia cruel do “confronto permanente” como prática de governo produziram como saldo assustador o extermínio sem julgamento, para muitos, e o caos social para todos.
Não nos enganemos. Os impactos da violência armada no Rio de Janeiro não são novidade e vão muito além das estatísticas de criminalidade. Agudizam uma crise de natureza socioeconômica que há muito corrói o cotidiano das pessoas, o refúgio de suas casas e mesmo seus momentos de lazer, subtraindo a integridade mental e física de comunidades inteiras. O sofrimento incessante, os adoecimentos e óbitos desembocam em um problema de saúde pública.
Enquanto escrevemos esta nota, os números de mortos aumentam e são contados por famílias dos Complexos do Alemão e da Penha. Cabe indagar: a quem interessa a manutenção e agravamento da ambiência de insegurança e medo decorrente da violência armada na capital e região metropolitana?
Não se trata de um conflito armado não internacional, mas de um fenômeno multidimensional que há muito adoece nossa cidade, cancela o sonho de estudantes, impede o tratamento de doentes, rouba a tranquilidade das famílias, tira o sustento de quem trabalha. Ignorá-lo é irresponsabilidade administrativa, tratá-lo via necropolítica é alimentá-lo.
Política de segurança pública se constrói com etapas planejadas e estruturantes de resultados socialmente justos e duradouros, não a rotina brutalizante que sobrecarrega comunidades já castigadas pelo crime e pela precarização.
Exigimos:
- Proteção e manutenção da rotina das pessoas;
- Planejamento intersetorial e postura preventiva como política pública;
- Formação cidadã das forças de segurança;
- Inteligência informada por evidências com foco em redes criminosas;
- Transparência e controle social para dimensionamento e gestão de riscos
- Preservação da vida e valorização de direitos
- Proteção e manutenção da rotina das pessoas,
- Respeito as instituições de Estado que garantem os direitos constitucionais;
- Articulação efetiva com o governo federal, Planejamento intersetorial e postura preventiva como política pública
- Formação cidadã das forças de segurança.
- Inteligência informada por evidências com foco em redes criminosas;
- Transparência e controle social para dimensionamento e gestão de riscos
A interrupção de atividades das instituições e equipamentos públicos não só prejudica seu funcionamento normal como representa uma violação de acesso a direitos e gera um ambiente de insegurança, medo e instabilidade. A lógica da ocupação e extermínio praticadas no Estado do Rio de Janeiro ignora as instituições garantidoras de direito e desrespeita mesmo o STF quando descumpre a ADPF das Favelas (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, estabelecendo as regras contra a letalidade policial nos lugares favelizados).
Midiatizar a violência armada não é dar transparência às ações de segurança pública. É espetacularizar a vergonhosa falta de acesso a melhores condições de vida, a pratica do extermínio como política – enfim, a privação de direitos que estão expostas nossas gerações de hoje e de amanhã.
Hoje, sob a mais desastrosa e letal operação policial de sua história, o Rio de Janeiro despertou, ainda que tardiamente, para a realidade de que o caos nutrido pela desigualdade e pela violência rotineiras não gera espaços seguros para ninguém, nem civilidade possível, nem futuro em comum.
Rio de janeiro, 29 de outubro de 2025,
- Conselho Deliberativo da Fundação Oswaldo Cruz (CD-Fiocruz)
- Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
- Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes)
- Redes da Maré
- Instituto Fogo Cruzado
- Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO)
- Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Fiocruz (ASFOC)
- Rede de comunidades e movimentos contra violência
- Rede Nacional de Mães e Familiares de Vitimas do Terrorismo do Estado
- Organização Mulheres de Atitude
- Conselho Gestor Intersetorial de Manguinhos.
- Redeccap de Empreendimentos Sociais (Redeccap)
- Espaço Casa Viva de Manguinhos
- Conselho Comunitário de Segurança pública – AISP 22.
- Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME)
- Programa Institucional sobre Política de Drogas, Direitos Humanos e Saúde Mental – (PDHSM/Fiocruz)
- Programa Institucional de Articulação Interserorial Violência e Saúde (PIVS/Fiocruz)
- Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVES/Ensp)
- Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESec)
- Conselho Comunitário de Manguinhos
- Projeto Marias – como posso ajudar meu filho especial
- Grupo de Trabalho Saúde Internacional e Soberania Sanitária do CLACSO -Núcleo Brasil/ Grupo de estudos Feminismos Decoloniais, Racismo e Saúde
- Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos Sobre Drogas – ABRAMD
- Associação de moradores do conjunto Habitacional Nelson Mandela
- Coletivo Manguinhos Solidário
- Coletivo Manguinhos contra a Violência
- Associação Cultural Movimento Desabafo Urbano (MODU)
- Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas (Rede Reforma)
- Conectas Direitos Humanos.
- Escola Livre de Redução de Danos
- Frente Estadual pelo Desencarceramento do Rio de Janeiro
- Movimento Candelária Nunca Mais
- Movimento Popular de Favelas (MPF)
- Associação Brasileira de Redução de Danos (ABORDA)
- Rede Brasileira de Redução de Danos e Direitos Humanos (REDUC)
- Centro de Convivência É de Lei
- Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas (PBPD)
- Rede Brasileira de Redução de Danos e Direitos Humanos (REDUC)
- Centro de Convivência É de Lei
- Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas (PBPD)
- Movimento Mães de Manguinhos
- Grupo de Estudos Ciências Humanas e Saúde: Interlocuções Interdisciplinares (PUC-Rio)
- Núcleo de Inclusão Social (NIS-UFRJ)
- Laboratório de Ética Animal e Ambiental (LEA-UFF)
- Nós: Dissidências Feministas – UFRJ
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