Na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), a Fiocruz levou para o centro do debate uma mensagem de que a crise climática é também crise de saúde – e ela não atinge todo mundo da mesma forma. No Pavilhão da Saúde, organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com a Wellcome Trust e outros atores internacionais, pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) apresentaram os resultados da Plataforma Cidacs-Clima, desenvolvida em colaboração com a London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA). O foco é investigar como as mudanças do clima impactam a saúde de populações em situação de vulnerabilidade social e que respostas de política pública podem reduzir esses danos.
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A plataforma combina grandes bases de dados brasileiros – como a Coorte de 100 milhões de indivíduos – com informações de estações meteorológicas, satélites e medições de qualidade do ar, formando camadas de informação que cobrem todo o território nacional. A partir desse ecossistema de dados, os pesquisadores conseguem mapear de forma granular quem sofre mais com ondas de calor, secas, enchentes e outros eventos extremos. O coordenador científico do Cidacs, Maurício Barreto, sublinhou na COP30 que a própria dimensão continental do Brasil aprofunda desigualdades sociais e climáticas: grupos vulneráveis – como população negra, povos indígenas e pessoas em extrema pobreza – estão sistematicamente mais expostos e menos protegidos frente aos choques climáticos.
Os resultados apresentados em sessões no Pavilhão da Saúde, no Dia da Saúde (13/11) e em um evento do Lancet Countdown (12/11) mostram, por exemplo, que a relação entre temperatura e mortalidade infantil é dramática: crianças com menos de cinco anos enfrentam risco 95% maior de morrer em situações de frio extremo e 29% maior em períodos de calor excessivo. Outros estudos evidenciam a maior incidência de doenças tropicais negligenciadas entre populações socialmente marginalizadas e o impacto positivo de programas de proteção social, como o Bolsa Família, na melhoria das condições de vida e de saúde desses grupos. Esses achados dialogam diretamente com o Plano de Ação em Saúde de Belém, apresentado pelo governo brasileiro como primeiro plano internacional de adaptação climática voltado exclusivamente à saúde.
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Outro eixo central da apresentação foi o campo de “Detecção e Atribuição”, área da climatologia dedicada a identificar se mudanças observadas no clima decorrem de causas naturais ou de atividades humanas. Para Barreto, quantificar o impacto atribuível das mudanças climáticas sobre a saúde é um passo crucial para orientar políticas de adaptação e mitigação, mas também para embasar discussões de justiça climática e reparação. Ao mostrar, com números, quem morre mais, quem adoece mais e em que territórios esses impactos se acumulam, a Plataforma Cidacs-Clima fornece evidências difíceis de ignorar por formuladores de políticas públicas, gestores de saúde e negociadores climáticos.
A experiência apresentada na COP30 também se apoia em forte participação social. O projeto articula uma rede de organizações comunitárias, movimentos e instituições de pesquisa que coproduzem conhecimento com os cientistas do Cidacs. Entre os parceiros estão a Articulação pelo Semiárido (ASA), que reúne mais de 3 mil grupos comunitários no semiárido nordestino e tem longa trajetória de trabalho com cisternas para garantir acesso à água, a Associação de Pesquisa Iyaleta, reconhecida como Instituto de Ciência e Tecnologia, e o Instituto de Mulheres Negras do Amapá, que atua no combate ao racismo e às desigualdades de gênero na Amazônia. As experiências dessas organizações, somadas às evidências produzidas pela Plataforma Cidacs-Clima, alimentam um ciclo virtuoso: a pesquisa orienta políticas, e a realidade vivida nas comunidades redefine as perguntas científicas.
ISSN 3086-0415, edição de Luiz Ugeda.
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