O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, desistiu nesta sexta-feira (19) de viajar aos Estados Unidos após o governo de Donald Trump restringir seu deslocamento no país. Padilha classificou a limitação como “inaceitável”. Ele deveria fazer parte da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que fará o discurso de abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Inaceitável. Inaceitáveis as condições, porque eu sou o ministro da Saúde do Brasil. Quando vou para um evento como esse, tenho que ter plena possibilidade de participar do conjunto das atividades para as quais fomos convidados”, disse o ministro em entrevista à GloboNews nesta tarde.
O governo americano liberou o visto de entrada para Padilha nesta quinta-feira (18), mas informou que ele só poderia se deslocar em uma área equivalente a cinco quarteirões entre o hotel e a sede da ONU e as representações do Brasil ligadas ao órgão. A limitação também valeria para familiares que o acompanhassem.
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O ministro destacou que a restrição inviabilizaria sua participação na conferência da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), no próximo dia 29, em Washington, e em reuniões bilaterais que seriam realizadas fora do trajeto entre o hotel e a ONU.
“Nós teríamos várias reuniões bilaterais que às vezes ocorrem na embaixada de algum país. Então, na prática, impede a participação ativa do ministro da Saúde do Brasil em atividades para as quais fomos convidados para fazer parcerias e investimentos”, enfatizou.
Padilha destacou que o Brasil é o segundo maior país da Opas e o maior sistema nacional de saúde do órgão. Ele disse ainda que planejava anunciar no evento em Washington um reforço financeiro do Brasil ao fundo estratégico da Opas que pode “baixar o preço” de vacinas e medicamentos para todo o continente americano.
Brasil não será intimidado por “atitude absurda” dos EUA, diz Padilha
Ele encaminhou uma “nota dura” à Opas relatando a situação. Questionado se teme represálias do governo Trump, Padilha destacou que não se intimidará por essa “atitude absurda” dos EUA.
“Qualquer tentativa de restrição da atuação do Brasil não nos intimida e vai fazer com que o Brasil e o Ministério da Saúde do nosso país continuem defendendo a vacina, os investimentos na ciência”, afirmou. O ministro afirmou que se reuniu com indústrias dos Estados Unidos da área da saúde que querem investir no Brasil em razão da política de Trump contra vacinas.
“O Brasil, cada vez mais, inclusive por essas atitudes dos EUA, vai se transformando num país que vai atrair investimentos”, apontou. “Nossa resposta a essa atitude absurda é atrair cada vez mais investimentos para o Brasil para a produção de vacinas, medicamentos e tecnologia de saúde aqui no país”, disse Padilha.
No mês passado, o governo americano revogou os vistos da esposa e da filha de Padilha. A medida foi motivada pela atuação do ministro, que estava com o visto vencido desde 2024, no programa Mais Médicos.
Governo Lula aciona cúpula da ONU
Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse ter acionado o secretário-geral da ONU, António Guterres, e a presidência da Assembleia-Geral da organização para que tomem providências sobre as restrições impostas a Padilha.
“Estamos, através do secretário-geral da ONU e da presidente da Assembleia-Geral, relatando o ocorrido. São restrições sem cabimento, injustas e absurdas, e nós estamos pedindo a interferência do secretário-geral junto ao país sede”, afirmou o chanceler.
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